domingo, 28 de março de 2010

A Rã e a menina

*por Caju Cristal
Sob o mármore branco, ela pulava em saltitos. Não porque não tivesse força, mas pela pouca idade e estatura. Até aquela hora ainda ali, não havia morrido, por causa das nuvens que a protegeram do sol durante o singelo banho na borda do quadrado aquático de entretenimento, a piscina do clube. Sim, tenho certeza! Quando ela cansava do salto, vinha aquela microonda, e nesse instante ela se refrescava. De certo, que ao pulo de alguém mais corpudo, não era uma microonda, mas – de acordo com a proporção ser vivo animal e água – parecia bem um tsunami.
Bem, mas o que eu quero compartilhar mesmo é a experiência de amor natureza entre a rã e a menina... Quando ela me viu – a menina corpuda – sofrendo por ver o esforço vão daquele minúsculo ser, ocupante de um espaço terrestre do tamanho da minha unha, acredito que se comoveu... Por isto ouviu atenta minha instruções para tentarmos tirá-la – a rã – dali, antes que fosse esmagada, por algum humano no movimento mais brusco, até mesmo na saída daquele ambiente aquático.
Então, na beira da piscina, do lado de dentro, com meu filho no colo, motivo pelo qual não pude fazer mais pela rã do que já estava fazendo, comecei a instruir a menina:
- Ela precisa sair daqui – disse.
A menina então pôs-se a tentar pegá-la com as próprias mãos...
-Mas assim, não! Você vai conseguir retirá-la se pegar algo, como um chinelo, fizer ela subir e levantar a plataforma do chinelo até a superfície do chão acima do mármore da borda da piscina.
A menina entendeu, mas a rã, não! O bichinho até pulou em cima da nossa tábua de salvação, mas rapidamente mudou de lugar, esticando e encolhendo aquelas minúsculas patas, coisa única que ela devia saber fazer desde o seu nascimento. Algo instintivo, como o movimento de sucção dos bebês à procura do alimento, após receberem a luz!
Novamente seguiu minha orientação:
- Pegue este chapéu e oriente o pulo dela na direção do calçado...
Cedi meu protetor solar em forma de chapéu, aliás, fiz mais! Cedi o do meu filho, para este trajeto. Fi-lo porque havia água em abundância para lavar algum tipo de gosma que pudesse sair dali...
Enfim, o sucesso! Ela foi erguida à superfície seca antes da borda da piscina. Alívio para ambas as três partes!!! A menina e a rã naquele momento, senti que, viveram algo como um pacto. A menina, por ter ajudado um ser vivo da natureza, e a rã por ter cumprido sua função em sobreviver, para quem sabe morrer em um outro momento, que não aquele!
Só não era o fim! A menina se envolveu com o bichinho, e depois voltou ao local para perceber o andamento da situação. Admirada com a sobrevivência do anfíbio, ela ainda queria ajudar mais... E aí foi que a rã realmente correu perigo! No afã de pegá-la novamente com as próprias mãos, quase esmaga a bichinha com seu amor tácito, para não dizer, tátil pelo animal...
Mas uma vez me meti...
- Deixe-a ir. Se tentar pegá-la poderá matá-la esmagada!!!
Ela entendeu, mas não queria abandoná-la. Afinal, a rã havia sido motivo de um episódio em sua vida. Quantas vezes não teria visto pessoas correndo com nojo de um animal como aquele, e naquele formato mini, teria se aproximado de outra forma. Teria reformulado a concepção de mundo humanística, que destrói tudo que lhe incomoda, com repelentes, esmagadores de mosquitos, venenos, ..., para tentar reconstruir dentro de si mesma, que tanto a rã, quanto ela teriam o mesmo direito de viver mais um pouco, ou pelo menos tentar...

Nenhum comentário: